O meu pai ensinou-me a amar o azul do céu por cima de todas as coisas.
Não que não haja coisas mais importantes – a saúde, o amor, a liberdade – mas é uma evidência. O azul do céu está, por inerência, por cima de todas as coisas.
Amplo, infinito, ele lembra-nos como somos pequeninos. E pelo caminho, generoso, aviva-nos a nossa grandeza.
Quando o céu está azul, apetece-nos levantar a cabeça e engoli-lo. Ao mesmo tempo, baixamos os olhos em sinal de reverência e humildade. Agradecemos.
No Verão, ou melhor ainda naqueles dias estupidamente belos de Inverno, frios e luminosos, louvamos o azul do céu. Quanto mais azul melhor. Não queremos nuvens, mesmo passageiras, a importunar a paz cerúlea. Depois, aprendemos a amá-las também. Rarefeitas. Esfareladas. De fininho. Como essas aí em cima.
Ontem desci a rua em direcção à igreja de Santa Isabel para ver o Céu de Michael Biberstein. Finalmente está pronto, e valeu a espera. Diz-me uma amiga muito querida que o conheceu que Biberstein era gigante. Um “bom gigante” diz ela. E eu, que sou agnóstica, acredito piamente.
A minha avó diz-me que estou “à procura de Deus”. A Clarice, sempre a desconcertar, vem e escreve “acima dos homens nada mais há“.
Há sim, Clarice. É o céu.
Até quando não é exactamente azul, mas translúcido e sublime como o de Biberstein. Ontem em Santa Isabel ouvi atentamente a homília de D. Manuel Clemente e não me soube a sermão. Cabecinha no ar, perdi-me nas nuvens que se abriam e regressei à terra a pensar num “céu que nunca mais acaba”.
O projecto “Um Céu para Santa Isabel” de Michael Biberstein, começou em 2009 e quase foi interrompido pela súbita morte de Biberstein, em Maio de 2013. Do projecto inacabado nascia “O Céu de Mike”, onde um comité técnico e artístico formado por pessoas muito próximas do artista dava continuidade ao projecto. A história está toda aqui, e vale a pena lê-la.
Para quem perdeu o começo de tudo, na Appleton, pode rever a maquette e outras maravilhas numa exposição no museu Arpad Szenes- Vieira da Silva. A exposição, organizada em colaboração com a Galerie Jeanne Bucher Jaeger, apresenta também os estudos do artista para o tecto da igreja, e obras sobre papel inéditas. Está até 11 de setembro.
(as fotografias do tecto são de Orlando Almeida/ Global Images e a da maquette é de Rui Semedo da Luz)
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