“Pretizada means precious in Sardo” explica-me o gentile Ivano, que nasceu na Sardenha ou em Milão, não me lembro bem, mas passou pela Sardenha, isso sem dúvida, viveu em Nova Iorque com Kyre, a sua mulher e companheira de aventuras, e voltou à terra, onde agora vivem na parte mais remota da ilha.
Como para variar não levava caneta, escrevi a nota, para não me esquecer, num desengraçado telefone chinês que adquiri depois de me fartar dos caprichos da maçãzinha de Jobs (acto de rebeldia totalmente falhado, agora não são só os americanos a fazer dos meus dados gato sapato, os chineses também, a totalidade do mundo incivilizado, na verdade).
Mas a frase tinha sentido, bateu-me positivamente, não a teria esquecido facilmente ainda que não a tivesse escrito. O problema está na tradução. Será que “pretziada” significa “bonita/preciosa” em Português, ou então um mais literal, para não dizer piroso, “prezada”? (carta imaginária: “Prezada Madalena… ” e um knock out instantâneo, murro no estômago, olho inchado, mesmo que tentasse,s ó com extrema dificuldade conseguiria passar da primeira linha.)
Fico-me pela palavra original. Como a belíssima colecção de artefactos arqueo-modernos que Ivano e Kyre “curaram”, reuniram e mostraram em Milão, Pretziada tem uma identidade que não dá muito para esquecer.
Um estúdio luminoso onde todos adorávamos trabalhar ou viver – ou as duas coisas ao mesmo tempo, delicado vai e vem a que nos vamos habituando, que remédio, e se for melhor a emenda que o soneto? – servia de pano de fundo a uma colecção de objetos que contam histórias, como todos os objetos que genuinamente interessam, só que estas histórias são particularmente encantadoras, importantes, urgentes (podem espreitar por aqui). Isto porque estão ligadas a um lugar, a um território, uma comunidade, e às pessoas que aí vivem, e ficam, e a outras que aí chegam, e ficam, ou se calhar só passam, e aos encontros que acontecem, e aos fios que se tecem e se estendem assim, de uma ilha para o mundo, do mundo para uma ilha, de dentro para fora, de fora para dentro.
Que eu aprecio bastante ilhas já se deve ter notado. As físicas e as imaginárias. Esta tem um bocadinho de tudo. “Pretziada é um projecto interdisciplinar que combina os mundos do jornalismo, design, artesanato e turismo”. Até o turismo engulo. Glup glup. Por isso, esta Pretziada caiu-me como mel na sopa. Mesmo bem. Mas não é só por gostar de ilhas, ou de botas, ou de tapetes, tudo isto faria sentido e seria preciso mesmo que não gostasse de ilhas, ou de botas, ou de tapetes.
É que tem sentido. É preciso.
Na entrada de Heavy Souvenirs havia pedras da ilha. Pesadas. E um texto, outra espécie de peso leve, de que deixo aqui um excerto.
We are all lacking something (…)
Heritage becomes a fridge magnet, the monument becomes a mug
So instantly the unpossessable becomes attainable, easy
Infinitely part of our collective humanity.
We want our souvenirs to be HEAVY
Our memories are so heavy- the one’s we share
The ones so privately owned
Our responsibility is heavy – it belongs to so many.
Cadeiras de palhinha, medusas e cerâmicas mistas, tapetes em patchwork encantatório, um cabide solitário como todos, solene como tantos, apoiado em três patas, como lanças, como cajados, um tripé rupestre (Elements, de Valentina Cameronesi e Fratelli Argiolas)
Lá em cima e aqui em baixo alguns testemunhos do que acontece quando se junta num mesmo plano, sem segundos nem primeiros, um artesão, uma terra, um designer, uma matéria, uma técnica, uma ideia, um dia, uma imagem, outro dia, uma memória, uma palavra, um sonho do que já foi e há de vir.
Prezados leitores, enjoy!
Allover, Patchwork, belos nomes para belos tapetes feitos para pisarmos descalços.
Tudo o que precisas, nada que não precises
As belas tapeçarias de Roberto Sironi, em modo bird’s eye view, feitas à mão por Mariantonia Urru.
Sam Baron fez um desvio pelo México e desenhou estas belezas, saídas das mãos de Walter Usai um ceramista de Assemini.
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